Angélica revela assédio aos 18 anos

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Filha de uma dona de casa e de um metalúrgico, Angélica Ksyvickis Huck nasceu em Santo André, em 1973. Entrou para a televisão para superar um trauma. Quando tinha 4 anos, sua família foi vítima de um assalto em casa. Ela viu o pai ser baleado. Ficou seis meses sem pisar na rua. Ao perceber o interesse da filha pelo Cassino do Chacrinha, Angelina, sua mãe, decidiu levá-la para um concurso no programa. “Saí de casa com um pano na cabeça.” Ganhou a competição e daí em diante a história é conhecida: nunca mais deixou os estúdios, fez filmes, novelas, gravou discos e consolidou-se como apresentadora da TV Globo.

No começo da vida adulta, exerceu a rebeldia que “não teve tempo de viver na adolescência porque estava trabalhando”. Namorou o apresentador César Filho, os atores Márcio Garcia e Maurício Mattar, até casar-se com Luciano Huck, em 2004. Durante a conversa, falou sobre essas memórias, temas como feminismo, aborto e legalização das drogas, a maternidade e como a meditação é importante para colocá-la no eixo.

Confira abaixo trechos da entrevista com a apresentadora, na íntegra na edição de outubro de Marie Claire, já nas bancas!

Marie Claire Você diz que sempre quis ser mãe. Como foi esse processo?
A
 Tem um certo romantismo em torno da maternidade. É divino, é um privilégio, mas é barra. A gravidez, realmente, não curto. Não amo a barriga, e não é porque prefiro gominhos, como dizem. É porque pesa. Gosto de quando nasce. Fico noites acordada, com peito rachado e não tem problema.

MC Como foi o acidente do Benício para você?
A Ele estava fazendo wakeboard quando bateu a cabeça. Voltou para o barco, e desci para ver o que tinha acontecido. Ele mesmo tinha buscado gelo, superconsciente. Quando passei a mão na cabeça dele, afundou. Não tinha sangue, mas entendi que era grave. Aí, cara, foi um desespero. Estávamos no meio do mar, escurecendo, sem sinal de telefone, que funcionou para uma única ligação, a do médico. Voltamos para o Rio. Fui até a entrada do centro cirúrgico com o Benício, sem saber como ele voltaria. Quando fecharam a porta, eu gritava que nem um bicho. Os médicos começaram a falar alto para ele não me escutar. A sensação é de cortar a própria carne. Fiquei de joelhos rezando o tempo todo. Foi um milagre enorme: em dois dias ele saiu do CTI, em quatro estava em casa. Não teve convulsão, apesar da perda encefálica na parte pré-motora. Está ótimo, não teve sequelas.

Tinha tanta fé e estava tão focada em rezar que não concebia a ideia de perdê-lo. Não pensei isso, queria que ele saísse bem daquilo. Foi quando ele viajou com a escola, dois meses depois do acidente, que caiu a ficha. Entrei no quarto e a cama dele estava vazia. Comecei a chorar muito. Só de falar para você já me dói o peito.

MC Você se considera feminista?
A
 Sim. Todas deveríamos ser. Mas tem que botar o sentido correto da palavra. O feminismo que acredito luta pelos direitos iguais, não é contra os homens. A culpa não é só deles. Nós mulheres criamos filhos machistas. A reeducação leva tempo. Às vezes tem que ser um pouco radical para que isso aconteça. Vocês da Marie Claire por exemplo, que preferem trabalhar só com mulheres. É importante ter movimentos assim no Brasil de hoje, por motivos óbvios.

MC O #MeToo e a denúncia de assédio sobre José Mayer transformaram os bastidores da TV brasileira?
A
 Ajudaram, mas foi um conjunto de coisas. Hoje, na TV Globo, muitas mulheres em cargos poderosos estão de olho nisso. Por outro lado, na própria TV Globo a gente vive meio que uma moda, é legal falar que é feminista. Temos que tomar cuidado para não ficar só uma coisa raivosa.

MC Já sofreu algum tipo de assédio ou agressão sexual?
A
 Teve uma história uma vez quando tinha 18 anos. Era Natal, estava em Nova York com meus pais e um conhecido apareceu no hotel com uma cara de louco, dizendo que queria conversar. Neguei. Entrei numa limusine, ele veio atrás. Tentou me agarrar à força. Empurrei, bati nele e saí do carro. Demorei a perceber o que aconteceu. Foi uma situação bem escrota, deu pra sentir como deve ser difícil quando você não tem força para reagir.

MC É a favor da legalização do aborto?
A
 É complicado implantar uma lei tão polêmica no Brasil por causa da falta de educação. As pessoas não têm acesso à comida. É difícil exigir que entendam isso porque esbarra em religião e coisas profundas. Não posso dizer que sou a favor porque vou afrontar muita gente. Agora tem que criar uma lei específica para casos como estupro. A saúde também precisa ajudar. Aborto clandestino é o que mais acontece e mata gente.

MC Independentemente do que os outros pensam, no seu entendimento o aborto deve continuar sendo crime perante a lei?
A Temos que começar fazendo valer a lei, de que se a mulher foi estuprada, tem direito ao aborto. Mas  acho que podia ampliar um pouco, sim. Deveríamos ter políticas de saúde melhores para que isso não precisasse acontecer. Se ela decidiu isso, não foi porque quis engravidar. Religiosamente é muito complicado, do ponto de vista energético está errado. E a mulher tem que ter o direito de escolher. Eu acho [risos].

MC É a favor da legalização da maconha?
A Não. Esse é outro tema que precisa de debate. Se tiver um projeto de lei provando que vai melhorar a criminalidade, falarei “é verdade, pode funcionar”. Em muitos países funciona, inclusive. Mas no Brasil, como está, outras coisas têm que acontecer antes.

“Medito todos os dias há quatro anos. Comecei por causa de uma síndrome do pânico”

MC Nas eleições voltou o boato de que Luciano teria um filho fora do casamento. Como lidou com isso?
Usam tudo na política. Na gravidez da Eva, fiquei de repouso e ele continuou a vida: viajava, ia a festas, eventos de trabalho. Disseram que estávamos nos separando, depois inventaram que ele tinha um filho com uma pessoa que ele nem conhecia. Soube disso depois, as pessoas me pouparam. Estamos preparados para fake news. Somos cúmplices e parceiros. Essas coisas não nos abalam, mesmo.

 

Marie Claire

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