Na África Subsaariana, ebola ainda preocupa mais que novo coronavírus

Preocupação com o novo coronavírus na região é secundária por causa do grau de letalidade relativamente baixo. Enquanto estimativas apontam que novo coronavírus cause a morte de 3% dos infectados, ebola mata de 25 a 90% dos pacientes.

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Apenas 12 casos do novo coronavírus foram confirmados na África Subsaariana e, enquanto o Covid-19 causa preocupação global, em vários países dessa região a atenção dos governos está mais voltada para a prevenção e contenção do vírus ebola.

No Aeroporto Internacional Jomo Kenyatta, na capital do Quênia, Nairóbi, todos os passageiros que chegam de voos internacionais passam por uma verificação de temperatura. Enquanto esperam a vez, podem ler em um cartaz a descrição da doença, os sintomas, as principais medidas de prevenção e os contatos do setor de vigilância sanitária do Ministério da Saúde local.

Todos que tenham visitado, nos 21 dias anteriores, países com surto de ebola e que apresentem um ou mais sintomas devem ir ao centro de saúde mais próximo ou ligar para um número especial.

A preocupação com o novo coronavírus na região é secundária por causa do baixo grau de letalidade. Enquanto o ebola mata de 25 a 90% dos pacientes, dependendo do surto, estimativas apontam que o novo coronavírus cause a morte de 3% dos infectados.

As duas doenças representam desafios ainda maiores para os países da região que passaram recentemente – ou ainda passam – por conflitos armados.

“As pessoas ficam sem acesso a cuidados de saúde nestes lugares porque as instalações médicas são saqueadas ou as pessoas são obrigadas a fugir. Isso torna ainda mais difícil que doenças como o novo coronavírus e o Ebola, em primeiro lugar, sejam detectadas e, em seguida, tratadas e vencidas”, explica Crystal Wells, porta-voz para África do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Em relação ao novo coronavírus, o maior perigo é a facilidade de contágio, um risco para países como o Quênia, considerado um importante hub regional. De lá partem voos não só para a maioria das capitais africanas, mas também para as grandes cidades dos outros continentes. Além disso, Nairóbi recebe diariamente muitos passageiros estrangeiros porque sedia várias agências de cooperação e ONGs internacionais.

Sudão do Sul

No Sudão do Sul, o governo demonstra preocupação com a propagação das duas doenças. Quem chega de voos internacionais ao Aeroporto Internacional de Juba, a capital, recebe um formulário do Ministério da Saúde em que precisa informar por quais países passou nos 21 dias anteriores e se teve contato com alguém que tenha contraído ebola, ou pelo menos teve suspeitas. Em seguida, o passageiro precisa marcar se tem ou não uma série de sintomas. O formulário também descreve os cuidados necessários para prevenir a propagação do vírus e informa os contatos do setor responsável pela resposta a eventuais casos.

Quem desembarca em Juba passa por uma área com um cartaz que orienta quem tenha estado na China ou em outros países afetados pelo surto do novo coronavírus nos últimos 14 dias a se apresentar ao setor de saúde do aeroporto. No entanto, nenhum funcionário faz perguntas a respeito. O problema é que, no atual estágio do surto, vários países já registraram casos da doença, o que dificulta um controle mais rigoroso, ainda mais em uma região com um sistema de saúde tão deficiente. Assim como no Quênia, quem chega ao Sudão do Sul tem a temperatura verificada, o que pode ajudar a identificar casos das duas doenças.

O surto do vírus ebola na África Ocidental que durou de 2014 a 2016 foi o pior desde que o vírus foi descoberto, em 1976. De Guiné o vírus se espalhou por Serra Leoa e Libéria. Já o surto mais recente afetou principalmente a República Democrática do Congo, onde a insegurança de várias regiões inviabiliza o trabalho dos agentes de saúde. “No caso da República Democrática do Congo, o surto de ebola acontece numa região que tem sofrido por anos de guerra. É comum as pessoas terem que fugir de casa por causa dos ataques. Imagine como é para tratar e isolar casos e prevenir até mesmo doenças básicas. É muito difícil em meio ao caos do conflito armado”, lamenta Wells.

Na semana passada, a última paciente de ebola internada no país, uma mulher da cidade de Beni, recebeu alta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Até o dia 29 de dezembro de 2019, um total de 3.373 casos de pessoas contagiados com o vírusforam registrados na RDC, dos quais 2.231 morreram desde agosto de 2018.

*Mário Cajé, editor do programa Sem Fronteiras, da GloboNews, e Alberto Fernandez, repórter cinematográfico da TV Globo, viajaram para o Quênia e o Sudão a convite do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). A viagem foi resultado do Prêmio de Cobertura Humanitária do Comitê, recebido pela equipe do Sem Fronteiras em 2019.

Fonte: G1

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